Influenciadores digitais têm responsabilidade dobrada nas eleições
Clara Becker
eGabriela Almeida
O Brasil é o segundo país com maior número de influenciadores digitais, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, de acordo com pesquisa realizada pela Nielsen (2022). No Instagram, 10,5 milhões de contas com pelo menos mil seguidores ocupam as redes sociais, posicionando esse grupo em uma estratégica posição quando o assunto é produção e consumo de informação no país.
Um estudo da Reuters Institute, organização associada à Universidade de Oxford, mostrou que, no Brasil, as redes sociais (57%) já são mais usadas para consumo de notícias do que a própria televisão (51%). Com esse cenário, e em pleno ano de eleições municipais, como fica o papel do influenciador no debate político-eleitoral?
Para além dos influenciadores que decidem se candidatar, a participação desses indivíduos no debate político ganha especial relevância no período eleitoral.
Nestes casos, não são apenas decisões de consumo que podem ser influenciadas, mas os próprios rumos do debate político e, até mesmo, decisões sobre votos, tornando-se fundamental que suas atitudes estejam alinhadas com a proteção da democracia, da integridade eleitoral e de um debate público, plural e livre.
O apoio ou a crítica a candidatos, partidos ou projetos políticos podem afetar como as pessoas que acompanham aquele influenciador decidem votar.
É dever do influenciador, portanto, conhecer as resoluções eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para entender quais são os seus limites de atuação, e guiar suas atitudes.
No lugar de Norte (N), Sul (S), Leste (L) e Oeste (O), propomos ao influenciador e produtor de conteúdo uma bússola que guie para Liberdade de Expressão (LE), Transparência (T), Responsabilidade (R) e Pluralismo (P):
Novos desafios para 2024
No início de 2024, o TSE anunciou a permissão do uso de inteligência artificial em propagandas eleitorais, desde que possuam um aviso, destacado e acessível, de que o conteúdo foi fabricado ou manipulado por ferramentas que utilizam esse tipo de tecnologia.
No entanto, é importante reforçar que é proibida a utilização desses sistemas para disseminar fatos inverídicos ou descontextualizados com potencial de causar danos à integridade do processo eleitoral, incluindo deepfakes, quando áudios e vídeos são manipulados para parecerem reais.
Apesar de essas previsões legislativas serem direcionadas essencialmente a quem disputa um cargo político, é preciso que influenciadores, em sua posição de comunicadores, estejam atentos a conteúdos manipulados, denunciando aqueles que não possuem aviso de forma explícita sobre o emprego de IA, e sejam transparentes quanto ao uso dessas ferramentas em seus próprios conteúdos.
Ter uma influência responsável e positiva nas redes sociais também implica no apoio à construção de um debate democrático, livre, transparente e plural. É papel do influenciador, diante de audiência, ajudar a frear a desinformação que circula de forma especialmente feroz em períodos eleitorais.
Compartilhar checagens de agências como Lupa ou Aos Fatos, acompanhar os desmentidos publicados nas redes sociais do próprio TSE, e dividir técnicas de como identificar conteúdos falsos com seus seguidores são alguns caminhos interessantes a serem seguidos.
As dicas aqui e outros exemplos de boas práticas para ter uma influência positiva no contexto eleitoral estão no “Guia para influenciadores nas eleições”, conteúdo desenvolvido pelo Redes Cordiais, em parceria com o InternetLab, e apoio do YouTube. Leia, compartilhe com colegas, e ajude a tornar o ambiente político-eleitoral menos hostil nas eleições.
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